“Era uma vez um menino chamado João que vendeu sua vaquinha por três feijões mágicos que viraram um enorme pé de feijão. João escalou até chegar nas nuvens e encontrar um dragão…”

“Não, não é assim”

Todo pai, mãe ou familiar de criança a partir dos 2 anos deve ter vivido a mesma experiência. Você começa a contar história, a mesma que contou no dia anterior, mas está um pouco cansado da mesma narrativa, então decide mudar, mas a criança não aceita, ela quer a mesma história, do mesmo jeito que você contou antes (para as pessoas que contam da cabeça como eu, as vezes isso é difícil). Mas por que isso? A criança não se cansa?

O prazer da expectativa

A primeira reflexão que quero propor é a seguinte. Você deve lembrar dos seriados e desenhos que assistia em sua adolescência. Eu me lembro dos Changeman por exemplo. A narrativa de cada episódio mudava um pouco, mas esquema narrativo era sempre bem previsível. Precisava de ter o momento de transformação (com música empolgante e gritos de guerra), essa era a parte interessante. Programas de humor pastelão, como Os Trapalhões, Praça é Nossa e o antigo Zorra Total também partiam dessa ideia de bordões repetidos, atendendo justamente a expectativa. Você assistia querendo que o fato acontecesse e, quando acontecia, você ria, sentia-se satisfeito em sua vontade.

Rotina também é conforto e segurança

Conheço algumas pessoas que se aposentaram e a grande maioria delas, em seus primeiros dias de aposentadoria, afirma que alguma coisa faltava em seu dia. A falta de rotina, a imprevisibilidade do dia seguinte nos faz lembrar constantemente da ideia de que o tempo passa. As coisas não serem sempre da mesma forma nos gera um incômodo. Mesmo aquelas pessoas com empregos ou rotinas bastante variadas desfrutam de momentos de repetição.

Vamos voltar para a criança. Ela está iniciando sua experiência no mundo, começa a perceber o que existe a sua volta, e ela deseja que o mundo seja, de certa forma, previsível. Quando ela espera que João encontre um gigante no alto do pé de feijão e ele efetivamente encontra, a sensação é de que “está tudo bem”, “tudo está seguro”. A confiança da criança é reforçada nesses momentos. Mudar toda narrativa, todos os desenhos, todas as brincadeiras a cada dia poderá deixar a criança ansiosa, insegura. Infelizmente a nós, cuidadores, resta apenas ter paciência para contar a mesma história e assistir Frozen infinitas vezes.

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