Quem foi o educador que desperta tanto debate atualmente?

Educador, um dos mais renomados e traduzidos pesquisadores brasileiros, Paulo Freire sempre foi alvo de debates acalorados por seus defensores e críticos. O grande problema é que a maioria daqueles que o criticam nunca o leram, e muitos daqueles que o defendem também não.

Biografia

Nascido no Recife, em 1921, Paulo Freire perdeu o pai, capitão da polícia militar, com apenas 13 anos e viu a mãe passar por dificuldades para buscar garantir educação e sustento dos quatro filhos. Cursou direito, mas dedicou-se ao magistério desde o início de sua vida profissional. Propôs a alfabetização de trabalhadores agrários a partir de seus próprios conhecimentos, sendo chamado pelos fazendeiros de “praga comunista”, por proporcionar a educação libertária a trabalhadores semi-escravizados. Em 1964 trabalhava como consultor para educação de João Goulart, quando insurgiu o golpe miltar. Ficou preso por 70 dias, por incitar a perturbação da ordem, e exilado até 1979. Durante o exílio, deu aulas em Harvard, trabalhou como consultor educacional do governo da Suíça, assim como em vários países africanos.

Pedagogia do oprimido

Uma grande parte da produção de Paulo Freire foi realizada durante o período de exílio, em especial seu livro mais citado e referenciado “A pedagogia do oprimido”. Na obra, sob influência de vários outros pensadores, ele propõe que a educação seja centrada no conhecimento e na cultura do aluno e não lhe imponha uma visão opressora, que valoriza um único saber e cultura como válidos.

Como, na verdade, posso eu continuar falando no respeito à dignidade do educando se o ironizo, se o discrimino, se o inibo com minha arrogância?

Paulo Freire

Para Freire a educação é um ato político, independente do discurso pregado pelos educadores, que pode estar a favor da opressão (descaracterizando o aluno, através da aculturação e negação do seu saber) ou a favor da libertação (quando promove um saber coletivo, produzido pela soma dos indivíduos e não por um único saber individualista, de um professor que impõe ao educando uma visão hegemônica do mundo). Assim, em sua teoria, ele propõe essencialmente a liberdade do indivíduo, como sujeito do seu próprio aprendizado, e é definitivamente contra a doutrinação, como quando ele fala do professor: “Como, na verdade, posso eu continuar falando no respeito à dignidade do educando se o ironizo, se o discrimino, se o inibo com minha arrogância?”

Ao falar sobre oprimidos e opressores, Freire também refletiu como muitos entre aqueles oprimidos apenas almejavam tornarem-se eles mesmos opressores: “Para eles, o novo homem são eles mesmos, tornando-se opressores de outros. A sua visão do homem novo é uma visão individualista. A sua aderência ao opressor não lhes possibilita a consciência de si como pessoa, nem a consciência de classe oprimida. Desta forma, por exemplo, querem a reforma agrária, não para libertar-se, mas para passar a ter terra e, com esta, tornar-se proprietários ou, mais precisamente, patrões de novos empregados” (p. 18 de Pedagogia do Oprimido).

E aí está a grande tarefa humanista e histórica dos oprimidos – libertar-se a si e aos opressores

Paulo Freire

Como teórico, destaca-se a importância da análise social e não personificação de responsabilidades. Assim, Freire também aponta que o opressor é também foco da libertação pela educação, pois propõe a conscientização tanto destes quanto dos oprimidos dos papéis que desempenham na perpetuação de uma sociedade desigual: “E aí está a grande tarefa humanista e histórica dos oprimidos – libertar-se a si e aos opressores”.

Marcos Villas-Bôas, em artigo para a revista Carta Capital, sintetiza bem o problema das discussões sobre Paulo Freire: “Ao dividir oprimidos e opressores, de esquerda e de direita, como bons ou maus, e vice-versa, as pessoas criam um debate superficial e futilmente emocionado, por meio do qual buscam, em regra, impor ideias que estejam condizentes com suas agendas pessoais.”

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