Quando a ideia deste post me veio à mente não pensei no caráter ambíguo que a pergunta poderia ter.

Se por um lado vir pronto pode se referir à possibilidade de um professor nascer plenamente “preparado” para adentrar a uma sala e dar aula; por outro, pode atentar, também, para toda a bagagem de conhecimentos que ele apresenta aos alunos e explora em suas explicações. E, no caso do que inicialmente idealizei em relação ao post, pensei na segunda possibilidade. Mas, tendo em vista a importância de ambas, desenvolverei as duas.

Capital Cultural

Começando pelo “capital cultural” do professor – o termo não é meu por isso as aspas; quem nunca se sentiu perplexo diante DAQUELA explicação sobre um tema X, na qual sua mente parece que foi arrebatada? Isso acontece com certa frequência. Principalmente na faculdade quando estamos na matéria DAQUELE professor especial, imerso em várias leituras, ideias… mas também ocorre (de forma diferente, talvez) no ensino básico. O que os dois casos trazem em comum, e passa desapercebido para muitos, é uma certa sensação, posterior ao extasie, de “nossa aquele(a) professor(a) é um gênio/fantástico/inteligente (insira aqui o adjetivo que quiser)!”; só que esta constatação, por mais bem empregada que ela possa ser, acaba deixando oculta toda uma trajetória de esforço.

Digo isso com base na minha experiência de professor, ainda mais considerando o nível fundamental em que você (professor) é o motor de boa parte das descobertas da molecada. A pessoa que transmite novas visões, que irradia novas posturas, enfim, que transforma. E aí, é muito comum você (aluno), se deslumbrar com essa figura, idealizando-a nas mais diversas fantasias de super-herói possíveis. No entanto, eu (Caio) te advirto, também como aluno e professor em formação; não existe milagres sem o fazer.

Para aprender a tocar AQUELA música, DAQUELA banda, eu sentei e toquei, toquei, toquei… pra entender AQUELE conceito, DAQUELE autor, eu li, conversei, discuti, pensei, escrevi… e isso tudo foi fruto de um tempo que, diga-se de passagem, ainda não acabou. Portanto, concluindo este trecho, se encantar é bom e permitido, mas você(s) também podem, e vão, chegar lá. E até passar, por quê não? O parte que cabe a mim (professor), é de te auxiliar no método, na organização do caminho, até que você possa fazer isso sozinho.

Nascer Pronto

Do “nascer pronto” do professor: fruto de infinitas discussões, seja no ambiente escolar, seja no acadêmico (disciplina de Didática da faculdade), ou até espaços mais informais (bares e churrascos, rs), esse tema sempre volta trazendo polêmicas. “Fulano nasceu pra dar aula”, “Sicrano tem uma didática/método impecável”; frases como estas são dirigidas como louvores àqueles que têm um bom controle das turmas que leciona, que sabe expor seu conteúdo sem deixar dúvidas, que sanam as eventuais questões de maneira objetiva e tal.

Contudo, o que não podemos perder de vista é que discutir sobre esse “sucesso” de alguns, implica em inserir isso em um contexto maior, que puxa uma gama enorme de outros eixos que se entrecruzam formando a complexa teia de variáveis que estão presentes numa sala de aula. Estou falando aqui de questões de Teoria e Método, que não são supridas por exemplos pontuais. E, claro, todo o contato com estudos dessas áreas é de suma importância, sobretudo estar sempre pondo em cheque os parâmetros teóricos que orientam a prática.

Está difícil entender?

Está difícil entender? Proponho estabelecer um “recorte” para tirar um pouco a discussão do caráter meramente especulativo, para pensarmos a partir de um trecho do texto “Uma reflexão sobre Didática”, de José Mário Azanha:

Finalizando este comentário sobre a noção de método, podemos concluir, talvez, que a atividade de ensinar é muito mais semelhante às de pensar criticamente e de contar piadas do que às de jogar xadrez ou nadar. A atividade de ensinar parece mais um exemplo de saber como do que saber que, isto é, trata-se antes de um saber fazer do que de conhecer certas regras e aplicá-las.

Ao longo deste texto, o autor discorre sobre o que seria didática. Longe de querer estabelecer um conceito fechado e fixo, o autor procura demonstrar o caráter volátil dessa ideia. E, ao recorrer aos exemplos de “Jogar xadrez”, “nadar” e “contar piada”, Azanha traz um pouco de tempero à discussão. Para o autor, como o próprio trecho sugere, o “ensinar” se aproxima do “contar piada”. Sua execução depende do uso da criatividade e da crítica; ao passo que, aprender xadrez exige o conhecimento prévio de regras, e sabê-las não te faz, por obrigação, um bom jogador de xadrez por exemplo.

A fala do Azanha, à primeira vista, parece ir contra ao que eu vinha falando sobre a importância de se atentar sobre a teoria e o método. Mas, o que te impede de se tornar um exímio jogador de xadrez com a prática, ou um melhor nadador ao conhecer “métodos” de compasso do seu esforço?  Me parece que o “ser bom professor” tem mais a ver com o estar disposto a ensinar e aprender (seja pelos livros ou pelos alunos, métodos ou práticas), portanto criticando sua prática constantemente, do que simplesmente procurando uma fórmula mágica de ensino.