O título de hoje não é uma pergunta, mas deriva de uma: como melhorar o sono de meu filho adolescente?

Quando eu era criança, adorava a ideia de ter um despertador. O meu primeiro foi um daqueles bem paraguaios (era como dizíamos na época, hoje se fala que são xinglings). Um cubo azul, com relógio de ponteiro, um ponteirinho pequeno no meio para programar o alarme – que era uma buzina estridente irritante. Cheguei a usá-lo por algum tempo, mas o barulho dos ponteiros movendo-se durante a noite me irritava profundamente (sentindo o tempo passando gota a gota…). Eu queria mesmo um rádio relógio. Minha avó tinha um branco, com mostrador preto e números em vermelho. Às vezes, eu brincava fazendo-o despertar, só para sentir a sensação.

Quando cheguei à adolescência, momento em que passei a controlar meus horários mais ativamente e minha mãe ou meu pai não me acordavam sempre, chegou a época dos aparelhos celulares. Eu tinha um daqueles da Nokia, com joguinho da cobrinha e tal. E ele já tinha um despertador próprio, com possibilidade de mais de uma programação. A partir de então, como para a maioria das pessoas, o aparelho celular passou a assumir a função de despertador.

Celulares são iscas de atenção

O fato de os celulares terem assumido a função de despertadores para a grande parte da população pode ser uma das explicações para mais de 90% das pessoas com aparelhos celulares conferirem suas mensagens logo depois de acordarem. O celular dorme na cabeceira da cama, quando não compartilha a própria cama de seus donos. E assim, antes de encontrar o seu repouso, 85% das pessoas também conferem suas redes sociais logo antes de dormir. Muitas vezes, prorrogando o horário de dormir, só para conferir o próximo post, e o próximo e o próximo…

Pesquisas em todo o mundo indicam a perigosa redução do número de horas de sono da população. Diversos fatores podem influenciar a redução do sono, a carga de trabalho ou ter filhos pequenos, por exemplo. Tais fatores não são novidades deste século, mas a presença de aparelhos celulares e outras tecnologias da informação e comunicação sim. Por isso, passou-se a investigar a relação entre essas novas tecnologias e a falta de sono que afeta crianças, adolescentes e adultos e chegaram a um culpado: o aparelho celular.

O início do sono é estimulado por um hormônio chamado melatonina. Há diversos estudiosos que recomendam a redução de contato com luz azul e branca ao longo da noite até o momento em que se pretende dormir. Isso porque nosso corpo, ao longo dos milênios que a espécie humana viveu antes de inventarmos aparelhos eletrônicos, condicionou a ideia da falta de luz ao momento de adormecer. Conferir o celular logo antes de dormir, além de estimular a compulsão por verificar as infinitas mensagens às quais ele dá acesso, também prejudica o início do sono.

Vício tecnológico e biologia (como se biologia e vício não fossem uma única coisa) nós fazem dormir cada vez menos. Adolescentes são especialmente vulneráveis aos encantos da tecnologia e à vontade de estar em contato com o grupo social a todo momento. Por isso, são os principais afetados pela falta de sono da atualidade. Estão sempre esperando a próxima mensagem do amigo ou do crush. E com isso, ficam horas e horas no celular até tarde da noite.

Pensando nesse motivo, que pretendo substituir o celular pelo despertador na cabeceira da cama, na minha e da minhas filhas. Não vai ser fácil. Eu mesmo já me habituei a conferir as conversas no fim de noite, mas vale a pena a tentativa. 

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