6 livros clássicos da literatura infantil e quais as razões de lê-los para sua criança

No último episódio do Entre Fraldas (#182. Hora do Recreio: O Hobbit) comentei sobre o texto Por que ler os clássicos?, de Ítalo Calvino. Nele, o autor lista uma série de motivos para justificar a leitura de obras fundantes da cultura (seja ela global ou regional).

Um clássico é um livro que vem antes de outros clássicos; mas quem leu antes os outros e depois lê aquele, reconhece logo seu lugar na genealogia.

Ítalo Calvino

Um dos motivos importantes para a leitura de uma obra clássica é cultural, é como saber que a terra é redonda, de onde vem a chuva ou como nascem os bebês. Clássicos são obras que estão presentes na nossa vida, mesmo sem nunca tê-los lido. Você pode nunca ter lido Dom Casmurro, mas certamente já o releu em outros livros, em novelas, filmes e músicas.

Assim como na literatura “adulta”, existem também os clássicos infantis. Claro que a lista é extensa e seria impossível ler todos para sua criança antes de ela atingir uns 90 anos, por isso faça sua seleção!

Eis a minha:

Alice no País das Maravilhas

Capa do livro Alice no País das Maravilhas

Escrito por Lewis Carrol, Alice conta as aventuras de uma menina em um país cheio de coisas sem sentido, uma corrida de pássaros, alimentos que mudam de tamanho e, claro, um chapeleiro maluco e uma rainha louca. A obra brinca com as percepções de realidade e a noção de sentido, edificando conceitos importantes para interpretação de textos poéticos.

Antes de Elsa e Ana, Alice foi a primeira protagonista feminina com um pensamento e atitudes independentes em um filme da Disney. Ela não precisou de nenhum príncipe para resgatá-la e levantou a voz em um “Não calo!”, quando foi ameaçada pela Rainha que pretendia executar “Primeiro a sentença… depois o veredito.”

O Hobbit

Capa do Livro O Hobbit, de J.R.R. Tolkien. Nome do autor centralizado na parte superior e título da obra centralizado vertical e horizontalmente. Ao fundo, ilustração de uma floresta ao pé de uma cordilheira de montanhas com picos nevados.

Escrito por J.R.R. Tolkien como leitura diária para seus filhos, o Hobbit narra a aventura de um relutante Bilbo Bolseiro, contratado por um grupo de treze anões que pretendem recuperar um tesouro antigo roubado pelo dragão Smaug. Hobbits são uma espécie de criatura semelhante a humanos, mas de estatura muito mais baixa e pés grandes e peludos, não gostam de grandes aventuras e, por isso, se escondem com muita rapidez e habilidade para não serem vistos.

A obra de Tolkien é certamente a mais influente da literatura de fantasia em língua inglesa, ela moldou toda uma forma de conceber um mundo medieval fantástico que vemos em outras produções como Harry Potter, Guerra dos Tronos, She-ra, Caverna do Dragão e muitos outros. O Hobbit também traz uma perspectiva de simplicidade, uma pequena e frágil criatura sendo capaz de transformar um mundo controlado por seres bem mais poderosos (e bem mais gananciosos).

Menina Bonita do Laço de Fita

Capa do livro Menina Bonita do Laço de Fita. Autora Ana Maria Machado, ilustrador Claudius. Na imagem, uma menina negra de cabelos trançados com laços de fita vermelho nas pontas é acompanhada por um coelho branco com expressão de admiração.

Escrita por Ana Maria Machado, autoria de vários outros clássicos infantis, a obra apresenta a busca de um coelho branco (perceberam a Alice aqui?) que queria muito saber o segredo da beleza de uma menina de olhos que “pareciam duas azeitonas pretas e brilhantes, os cabelos enroladinhos e bem negros” e pele “escura e lustrosa, que nem o pelo da pantera negra na chuva”. Em um período que poucos se preocupavam com a representatividade na literatura, Ana Maria Machado apresenta uma obra para valorizar a cultura e a beleza negra. 

A obra influenciou muitos autores a também produzirem obras atentas à diversidade dos pequenos leitores. Menina Bonita do Laço de Fita fala sobre a ideia de origem, as raízes genéticas e culturais que definem a variedade de traços físicos e percepções existentes no mundo.

Chapeuzinho Amarelo

Capa do livro Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque, com ilustrações de Ziraldo. Editora Autêntica. Na imagem em destaque, uma menina de cabelos compridos usa um chapéu redondo e amarelo, com um laço azul.

Escrita por Chico Buarque de Holanda, a obra conta a história de uma menina que tinha muito medo de tudo, um medo tão forte que a impedia de fazer quase tudo: não ia pra fora, não tomava sopa, não tomava banho, não falava, “vivia parada, deitada, mas sem dormir, com medo de pesadelo”. Mas seu maior medo, era o medo do lobo (dialogando com outro clássico que você certamente já sabe qual). Um dia, ela resolve enfrentar o lobo e percebe que o que faz dele um monstro é o seu próprio medo, um lobo sem medo “É feito um lobo sem pelo. Lobo pelado”.

Escrito em 1970, no período da Ditadura Militar no Brasil, a obra dialoga com esse momento ao abordar o medo como forma de controle (como diz a música, “paz sem voz, não é paz, é medo”).

Asa de Papel

Capa do livro Asa de Papel, autor Marcelo Xavier. Editora Formato, 27ª edição. Na capa, o título Asa de Papel é escrito em destaque, com a preposição "de" escrita dentro da imagem de um livro. Sobre o "P" há a ilustração de um homem feito de massa de modelar.

Escrita e ilustrada por Marcelo Xavier, a obra aborda a importância da imaginação para a construção da criatividade e da capacidade de perceber e viver diversos mundos. Tão importante quanto o texto verbal, são as ilustrações feitas em massinha que contribuem para a construção dos significados.

“Asa de Papel” é uma obra poética que permite explorar a interpretação ao falar sobre a própria capacidade que os livros (“asas de papel”) têm de transformar nossas percepções.

Eu tive o prazer de conversar com Marcelo Xavier no Entre Fraldas número 48, num papo sobre a importância da literatura infantil, confira!

Ou isto ou aquilo

Capa do Livro Ou isto ou aquilo, autora Cecília Meireles. Ilustrador Odilon Moraes. Editora Global. Na imagem do lado esquerdo, uma escada apoia-se em uma janela no canto superior mostra uma paisagem com sol e nuvem. No canto inferior direita, um guarda-chuvas posto em frente a uma janela aberta.

Ou isto ou aquilo, escrito por Cecília Meireles, foi um dos primeiros livros poemas de que me lembro de gostar, ler e reler diversas vezes. No livro, além do poema que lhe dá nome, há outros tantos conhecidos da autora, como “A Bailarina”, “As meninas” e “O eco”. 

É um livro para ler brincando com os sons (“O menino pergunta ao eco / Onde é que ele se esconde. / Mas o eco só responde: Onde? Onde?”) e com os sentidos. O poema “Ou isto ou aquilo?”, por exemplo, nos permite abordar a ideia de escolhas e consequências, afinal, não dá pra ter tudo o tempo todo.

Para você desaprender

Ítalo Calvino faz uma reflexão instigante sobre a leitura de clássicos na obra que citei neste texto. Em um ponto, é interessante notar quando ele usa a expressão “seu clássico”:

O “seu” clássico é aquele que não pode ser-lhe indife­rente e que serve para definir a você próprio em relação e talvez em contraste com ele.

Ítalo Calvino

Assim, ele constrói a ideia de que, embora existam livros que influenciam amplamente (e são chamados clássicos para uma comunidade), existem aqueles que influenciam o indivíduo e são, portanto, clássicos para ele. Qual é o seu clássico?

Para escutar mais

Fizemos uma conversa sobre literatura com o escritor, educador e contador de histórias Samuel Medina e construímos uma lista ainda maior de livros clássicos infantis para sua biblioteca:

Entre Fraldas #31: Biblioteca da criança 1

Entre Fraldas #31b: Biblioteca da criança 2