Escolhi não mentir sobre a dor na hora da vacina.

Fila para vacinação contra gripe, eu e Helena. Da sala de vacinação vem o choro desesperado de uma criança que acabava de receber a imunização. Na nossa frente, duas mulheres, uma delas com uma criança ao lado iniciam uma conversa em tom alto, com a clara intenção de que a criança ouça:

– Pessoa que chora assim para todo mundo ouvir, é feio né? – diz a primeira, dirigindo-se à mãe da criança.

– Nossa, muito feio. Não precisa chorar – confirma a mãe.

“Pode chorar sim, filha”, cochicho no ouvido da Helena. As mulheres retomam a conversa.

–E a vacina nem dói!

– Não! Não dói nada. Não sei por que chorar.

“Filha, dói sim, mas logo passa!”

Claro que Helena chorou, gritou e se agarrou em mim quando estávamos saindo. Quem a conhece, não esperaria nada diferente. Obrigá-la a não chorar através de ameaças, chantagens ou mentiras somente iria atender a minha expectativa de “não passar vergonha” no posto de saúde.

    Quando eu minto, dizendo que alguma coisa não dói, será que não estou perdendo a confiança dela? Ou mesmo tirando a confiança? Por que ela não pode chorar quando dói? Por que ela não pode dizer pra mim o que está sentindo?

    Mais tarde, quando estávamos caminhando para o supermercado, perguntei:

– Doeu, Helena?

– Doeu aqui ó – me disse ela, apontando para onde havia sido vacinada.

– Mas passou?

– Não.

   Nem tudo correu como eu tinha pensando, mas fiquei feliz de ela ter tido a liberdade de me dizer o que realmente sentia



Fizemos um episódio especial sobre vacinas com a participação do Átila Iamarino

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